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Os Homens Criaram Empresas, O Software as Tornou Iguais

· Leitura de 6 minutos
Raul Bras
Engenheiro de Software, Mantenedor do NeoBASIC.

Ilustração estilizada mostrando um programador com laptop brilhando em azul enfrentando um executivo corpulento de terno e gravata em vermelho, simbolizando um confronto entre empreendedores e grandes corporações em um cenário urbano futurista, como se fosse Davi contra Golias.

Fonte: gerado por ChatGPT em 23 Agosto 2025.

O software democratizou o acesso a recursos, criando um campo de jogo mais nivelado entre grandes e pequenas empresas. Hoje as ferramentas digitais (cloud, automação, marketing digital) tornam acessíveis recursos que antes só grandes empresas tinham. Startups conseguem escalar globalmente sem precisar de fábricas ou estruturas enormes.

Houve uma época em que as calculadoras programáveis eram a grande novidade tecnológica. Revistas de tecnologia vendidas em bancas continham pequenos programas que podiam ser digitados nestas calculadoras. A calculadora financeira HP-12C era campeã de vendas, e Hewlett Packard e Texas Instruments usufruíam de uma hegemonia quase imbatível. Pequenas empresas, que também vendiam calculadoras, praticamente não conseguiam disputar mercado com essas grandes corporações. Mas então vieram os smartphones.

Hoje, a calculadora HP-12C é um software, um app vendido nas lojas App Store e Google Play Store. E não é um app campeão de vendas, pois outros aplicativos estão no topo do ranking. Alguns desses apps foram criados por desenvolvedores independentes, pequenas startups com poucos anos de atuação. Nem existiam quando a HP e Texas Instruments dominavam o mercado. Esse cenário, existente graças ao software, até o século passado era inimaginável. Diversos outros mercados estão sentindo o mesmo impacto do software.

O século XX foi dominado por Hollywood, e filmes feitos por grandes estúdios sempre atraíam mais atenção. Hoje, graças às plataformas de streaming, filmes com orçamentos milionários disputam o mercado de entretenimento com pequenas produções independentes. No catálogo da Netflix, a maior das plataformas, os blockbusters dos grandes estúdios figuram lado-a-lado de filmes e curtas produzidos por indie film-makers. Alguns são criados em países subdesenvolvidos e com equipamentos de baixa qualidade, às vezes com a câmera do celular. Normalmente são editados em computadores pessoais com software open-source, mas a assinatura de uma plataforma de edição, como Adobe Premiere Pro, hoje em dia é bem mais acessível.

Atualmente o YouTube possui maior visualização nos lares que qualquer canal de TV no ar há décadas. Alguns influencers nesta plataforma faturam mais em um ano, gravando em casa com o celular, que programas feitos em grandes emissoras. A TV também enfrenta concorrência com as demais redes sociais, e aqui se destacam Instagram e TikTok. Milhares de pequenos negócios utilizam estas redes como principal canal de comunicação com seus clientes. Essa é a realidade em muitos países, ricos ou pobres: uma parte significativa da economia está consolidada sobre plataformas de software.

Eu sou bastante otimista quanto à evolução da humanidade, e não compartilho aquela ideia muito comum em filmes de ficção científica de que no futuro as grandes corporações terão um poder descomunal, muito maior que governos. A cada ano a tecnologia aumenta o poder de empreendedores e startups em todo o mundo. E agora com a inteligência artificial, pequenos comerciantes poderão explorar novos mercados e se tornarem ainda mais competitivos frente às grandes corporações.

Essa ideia que defendo não é no curto ou médio prazo, é no longo prazo. Um ponto no futuro onde Google Search talvez nem exista mais, e Facebook, Instagram e TikTok sejam só uma lembrança, assim como Myspace, Orkut e Google+ são hoje. Afinal a internet é um cemitério de software. A lista de projetos terminados pelo Google inspirou a criação do site www.killedbygoogle.com, “morto pelo Google” na tradução livre, que exibe os produtos descontinuados pela gigante das buscas. Até o momento desta publicação, o site constava com 297 projetos “mortos”, divididos em três tipos: aplicativos, serviços e hardware.

Google e Meta fazem parte das big techs do terceiro milênio, mas estão consolidadas sobre software. Quando houver um software melhor, acaba a hegemonia. E software é democrático, não precisa de licença do governo (como TV e rádio), não precisa de amplo terreno (como shoppings) e nem investimentos milionários, e não precisa ser especialista ou phd, basta saber programar. Google já começou a sentir na pele isso, o market share das buscas na web começou a mudar, perderam mercado para o ChatGPT e outras IA's.

Diversos comerciantes utilizam Instagram e TikTok. Isto para mim é uma primeira fase, o fato de ser necessário apenas um software para iniciar um negócio. Quando a sociedade estiver consolidada sobre este conceito, qualquer software melhor irá atender, pode ser um Mastodon ou Nostr. Instagram e TikTok hoje serão Outlook e Gmail no futuro. Não importa onde você crie conta de email, basta poder enviar e-mail e já atende. Se quiser um email melhor ou maior privacidade, uma plataforma acessível como Proton pode atender perfeitamente.

As empresas que vendiam enciclopédias até o século passado eram gigantes. Wikipédia é um software, democratizou enciclopédias. E tem várias outras na web, como a Investopedia. Mas não tem alguém que domine, porque é democrático. Você pode criar uma enciclopédia, e pode ser útil para alguém, mas não quer dizer que você irá dominar o mercado.

Imagina o esforço e investimento para criar um banco há algumas décadas. Era algo monumental. Hoje um banco é uma plataforma de software financeiro, uma Fintech. Já parou para ver quantos bancos hoje tem no Brasil? Até o ano 2000 havia em torno de 200 bancos no Brasil. Hoje esse número passa de 2000. Cartão de crédito, então, o mercado está bem pulverizado. É só uma questão de tempo até as bandeiras MasterCard e Visa terem mais concorrentes de peso, porque é software. Não precisa de cabeamento dedicado ou linha discada, basta a internet.

O que eu acredito, é que no futuro não haverá big players. Isso atende investidores que querem dominar mercado para faturar mais, querem monopólio, principal objetivo de toda a Silicon Valley. Não vai durar, não tem como. O software irá desbancar qualquer um que queira hegemonia no futuro. Estamos em meio a uma nova Revolução Industrial, mas agora os "teares mecânicos" estão ao alcance de qualquer um que saiba programar.

🖖 Uma longa e próspera carreira para você.